Projetos no CPTL oferecem aprendizagem e socialização para haitianos
Instabilidade política, pobreza, e uma série de outras mazelas levam haitianos a procurar uma nova vida em outros países como o Brasil, que desde 2010 – após o terremoto que devastou o Haiti – já concedeu mais de 60 mil vistos a esses imigrantes caribenhos.
Na linha dessa socialização, o Câmpus de Três Lagoas tem dedicado projetos a atender as demandas dos haitianos. De 2015 a 2017, foi desenvolvido o projeto “Brasil Haiti: troca de saberes a partir da UFMS/CPTL”.
Inicialmente coordenado pela professora Maria Celma Borges, professora do curso de História do CPTL, o projeto encerrou as atividades no ano passado com coordenação da professora do curso de Matemática do CPTL Eugenia Brunilda Opazo Uribe e vice-coordenação, desde 2015, da mestranda em Letras Ingridy Perico, além de parceria com a Diretoria de Cultura da Prefeitura Municipal de Três Lagoas e Escola Municipal Maria Eulália Vieira.
O projeto contou com a colaboração de alunos e professores dos cursos de Letras (graduação e Pós-Graduação), História, Geografia, Biologia, Matemática, Engenharia de Produção e Pedagogia e uma profissional da área de Cinema.
Participaram do projeto cerca de 30 haitianos, que foram atendidos com leituras, exibição de filmes e debate, aulas teóricas e de resolução de problemas, abordando os conteúdos do ENEM.
As aulas foram ministradas na Unidade 1 do CPTL aos sábados, no período vespertino. Já em 2017 foram abertas turmas especiais de Língua Portuguesa com aulas de segunda à sexta, das 17h30 às 19h e uma turma especial de Matemática às quartas-feiras, das 19h às 21h, na Escola Municipal.
“Ministradas por professores da UFMS, graduandos, mestrandos, mestres e doutores, a equipe organizadora, desde 2016, contou com um bom número de colaboradores, sendo que a cada aula tínhamos duas pessoas ministrando os conteúdos específicos junto aos haitianos”, explica a professora Eugenia Uribe.
Devido às dificuldades com os horários de trabalho, na maior parte dos casos não regular, os haitianos não conseguiram ter presença constante às aulas, segundo a professora. “Em todas as reuniões, eles manifestaram interesse por um trabalho com carteira assinada (que poucos conseguiam) e pelo ingresso na universidade. Muitos deles já têm estudos iniciados ou concluídos em outros países, mas não têm documentação comprovatória pelas inúmeras perdas vividas em seu país de origem, a exemplo de terremotos que destruíram escolas em que estudaram, entre outras situações”.
Mesmo atendendo a um número pequeno de haitianos, a coordenadora acredita que o projeto contribuiu para a percepção da importância do ensino superior e para o entendimento da Universidade como um espaço aberto e público, no qual os haitianos poderiam ingressar.
“Mas há de se destacar a questão da dificuldade da maior parte dos haitianos em relação à Língua Portuguesa, o que talvez seja também um dos inibidores para a continuidade no projeto. Sensível a isto, o projeto de 2017 voltou-se para um atendimento mais centrado na Língua Portuguesa, com aulas extras. O mesmo se deu quanto às aulas extras em relação à Matemática”, afirma a professora. Os haitianos têm como idiomas oficiais o Francês e o Crioulo haitiano.
A recepção da comunidade acadêmica ao projeto foi bastante satisfatória. “Dizemos isto pelo fato de que poderíamos ter dificuldades em relação à permanência dos haitianos no projeto, devido a todas as questões já arroladas, mas o mesmo não se dava em relação à equipe organizadora. Tínhamos graduandos para atendermos a todas as áreas, de forma bastante satisfatória, contando ainda com a participação de mestrandos, mestres e doutores, junto a nós professores da UFMS”.
Novo projeto de extensão
Graduandos, mestrandos e professores de Letras, Pedagogia, Geografia e História iniciam agora um novo projeto: “Socialização e inserção cultural de imigrantes haitianos em Três Lagoas (MS-Brasil)”, que propõe desenvolver atividades educativas e culturais para os haitianos em Três Lagoas.
Pelo projeto, que será coordenado pelo professor Thiago Santos, devem ser feitos ainda diagnóstico socioeconômico dos imigrantes, realização de um grupo de estudo e Seminário, organização de um curso de português instrumental, promoção de oficinas de produção audiovisual que devem resultar na elaboração de um documentário, exibição de filmes sobre o Haiti e o Brasil, entre outras atividades.
Participarão do projeto membros da comunidade universitária da UFMS, do IFMS e da Prefeitura de Três Lagoas, que também constituem o público alvo do projeto, além da população três-lagoense e a comunidade haitiana como público prioritário.